de que valem os títulos?

hoje tal qual um tsunami, fui invadida por uma onda gigante interna. em pouquíssimos segundo meus olhos transbordaram. já estava em frente de casa. precisei disfarçar. não queria preocupar ninguém. na verdade, sim, queria que se preocupassem comigo. mas o motivo é alto tão particular. volto pra casa mais uma vez, em mais um sábado de procura. sinto que dei um passo grande na vida adulta. e decidir por um futuro quase que determinante é uma responsabilidade imensa. enquanto isso, minha cabeça ecoa as palavras de minha última sessão de terapia "ver como seu corpo reage...". parece que meu corpo reagiu. me volta à memória os adoecimentos de meus pais, conjuntamente. me pergunto se deixei de aprender algo que seria benéfico agora nessa fase adulta, por ter que - durante essa juventude - ter me tornado cuidadora. não é um pensamento egoísta, é mais perturbador. e aí vem essa onda gigante dentro de mim, será que algo falhou aqui dentro? olho ao meu redor, e não há como não me comparar com as pessoas que conheço e conheci desde que era mais nova, vivendo suas vidas - claro, que com suas dores também, não é sobre isso -... mas quando elas tiveram a clareza da permanência e da necessidade da estabilidade enquanto moeda social? parece que tou falando uma besteira gigantesca. mas sinto falta de verdade é dos momentos em família aos domingos, do dia a dia familiar, da rotina dos aniversários que reuniam os primos, da viagem de São João pro interior, de acordar na madrugada pra pegar a estrada cedinho e fugir do trânsito, de sair e ter pra quem avisar "olha, cheguei em tal lugar, volto tal hora". e isso não é sobre controle, mas sobre uma cumplicidade de existência. me coloquei nesse lugar de dar conta de tudo. eu consigo, eu posso, nada me dói. e agora essa onda, me faz mergulhar nesse mar-espelho, em que vejo tudo que quis encobrir como uma falsa continuidade que estaria a salvo da dor. não está. sinto falta do encantamento, da troca genuína, do colo amigo, das madrugadas com tempo. tudo agora é o urgente. e do que os títulos nos salvam? qual título será preciso pra não se perder de si? de não se perder na construção que é de um outro. acho que perdi muitas coisas e menti pra mim sobre isso. hoje esse texto não tem final, continua.

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