sobre navegar, marés e mergulhos

no dia 01 de agosto deste ano adoeci, meu corpo me pediu para parar. não acredito apenas em coincidências nessa vida, mas em tudo que o universo nos fala - principalmente sendo uma pessoa do axé, e naquilo que precisamos simplesmente parar e escutar. agosto é o mês em que se celebra Obaluaê. não viria em outro momento mais pertinente essa necessidade de atenção sobre um processo de cura, que preciso priorizar em mim, no meu caminho. foram dias bem difíceis que se estenderam até julho, muitos processos ao mesmo tempo, derivados de outras situações que se perduraram. observo o tempo que as emoções atuam em mim. apesar de entender que são lugares transitórios, é como se muitas vezes não me permitisse mergulhar a fundo o suficiente de viver todas elas de uma forma mais sincera, que não se tornem feridas mal curadas depois. é como se em alguns momentos eu tivesse medo de pôr o pés lá no fundo, quando se mergulha numa água muito profunda. um medo de não conseguir voltar, respirar, sobreviver. e aí, que a qualquer momento o tempo pode virar, a maré mudar e sim, talvez precise encarar isso de frente, só que de uma forma que tem me trazido muito mais dor. um acúmulo daquilo que não tenho oferecido tanta atenção. quando os nervos ficam à flor da pele o que parece é exagero, mas é acúmulo. aparece quase que de forma imatura, e aí a primeira tendência é o isolamento, para depois a quebra, ruptura. mas em quais condições? será esse o caminho ideal? não tenho me machucado muito mais ao me isolar para sozinha querer encontrar a solução, e pra questões que nem sempre terão respostas? é como se um princípio incontrolável de controle, veja que loucura, se apossasse de mim. e diante de uma negativa, quebra de expectativa e frustração, de uma resposta que esperava do outro, escolhesse o caminho que acho que me trará mais paz. mas não traz, adia. é ilusão. porque esses sentimentos precisam ser encarados de frente em algum momento, confrontados dentro de cada uma das realidades que são apresentadas. muitas delas dentro de mim, antes de chegar até o outro. e se houver mesmo que envolver o outro. digo isso, pois muitas vezes são mais um preenchimento de um vazio. como pode algo tomar tamanha proporção dado ao silêncio em que mergulho? dentro de mim nunca é silêncio. Obaluaê, a sua benção. o que preciso olhar, sarar, perceber e reconhecer chega até mim. em conversa com um amigo, ele me falava sobre a importância de que nem sempre é o romper de forma totalitária que será a saída mais saudável, e sim, perceber quais caminhos de equilíbrio valem a pena tomar pra mim. e aqui não se trata de violências. mas da fuga que se pratica quando não é encontrado o que se espera. e o tal qual imaginamos existe? nem tudo. por mais que óbvio: é vida e tempo. meu aprendizado nesse agora revela a possibilidade de construção para um caminho que nunca percorri antes. que nunca mergulhei pelo medo de não voltar a respirar, ainda que continuasse sem chegar a uma superfície, vagando no meio do mar. um corpo que boia e segue o fluxo para o qual é levado. sim, agora é sobre aprender a me navegar, dentro e fora do mar.


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