É preciso saber sofrer.


O peito aperta até escorrer a última gota de lágrima...


A sensação é de estar repetindo o passado só para relembrar o que é sofrer. Mas não, pelo contrário, o resultado vem justamente da vontade de arriscar. E, por que não, também, da carência propriamente dita?

O ser humano é carente por si só. Sentimos falta de tudo. Mesmo do que não é extremamente necessário. É simplesmente a falta. O fato de não ter aquilo, ou porque simplesmente não podemos viver somente da nossa própria companhia e essência. Seria um risco. Ou um ato de loucura intencional.

As palavras ainda saem meio distorcidas.  A história é mais ou menos assim...


Um fim e um começo. O dequilibrio.
À procura das emoções mais fortes. Alimentar a própria vontade de surpreender e ser surpreendida. Em quais lugares, em quais corações estaria o risco de viver?

Pela noites passos rápidos. Os corações vazios perabulam pelos bares. Fingem que dançam. Se embebedam pela boca. Os entorpecentes trazem os sonhos para mais perto da realidade. A alegria é contagiante. Ainda que contida. A coragem brota pelos olhos, e os sentidos já não respondem mais ao cérebro, só ao ímpeto. O corpo acompanha.

Alí, em meio a multidão, por mais que solitária, sua própria companhia será bem vinda. O alvo está alí, intenso naquela confusão. Como preencher um vazio? Não, ele não vai embora. A noite está só começando.

Desejos e sentimentos brotam em cada fio de cabelo. Como podem se alastrar assim tão rapidamente? As mãos vão tateando todos os poros, como se estivessem lendo uma pele em braile. Dois em um, dois são um. Dói em um, o outro não se sabe. Não há tempo a perder.

Não era a intenção. Mas, já foi. O coração agora está lá preenchido de vazio. Cheio do que não é palpável. O coração agora contabiliza cada beijo, cada carícia, cada palavra, cada cheiro, cada sussurro, cada gemido, cada risada, cada convite, cada olho no olho...

Perdeu-se em contas. Pior. Descobriu que o futuro não existe. Ficou presa ao passado e não consegue desvencilhar-se das amarras de esperança. Luta contra a própria companhia, contra os próprios pensamentos. Já sabe que antes de saber amar, é preciso também saber sofrer. E mesmo que sofra, que seja somente por milésimos de segundos.

O que sentir? O que dizer? O que caminhar? O que arriscar?

Não, não há resposta para isso senão viver.


Mais uma vez as palavras falam por si só. Eu apenos escrevo. Distorcendo-as. Quase as revelando, quase me revelando por inteira. Quem melhor para entender a mim, que não eu mesma?

Posso estar enganada.



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