Tempestade.

Voltando o tempo atrás (e não atrás do tempo).


Pegou-o pela gola, de jeito. Cara a cara, agora ele não lhe escaparia mais. Podia sentí-lo, cada vez mais próximo... o encontro de suas respirações. Segurou com tanta força aquele pedaço de pano, amarrotando-lhe a camisa, que pensou que fosse enforcá-lo... ou suavemente tocar-lhe com os lábios.


Antes o fizesse, mas parou no meio. Na verdade, apenas imaginara.

Sentiu o arrependimento mesmo antes de cometer qualquer pecado.

Sentiu pelo que não fizera... como pode?

Sentiu e começou a chorar. Um choro calado, depois baixinho, mais tarde compulsivo. 
Culpou-lhe e fugiu dalí. Tudo, tudo, tudo culpa dele. Só dele.

Correu desesperadamente, seguiu embalada pelo choro, que agora se tornara repetitivo.

Tentava desvencilhar-se daquele maldito, mas ele a perseguia. Mesmo depois de dias, noites, madrugadas... em casa, no banheiro, na cozinha, no quarto, na cama, nos sonhos, na sua mente. Estava dominada.

Pensava que um dia as lágrimas secariam e esse fardo acabaria

Mas não, a cada dia a tempestade de lágrimas piorava. E agora surgiam a todo momento, em qualquer lugar.

Às vezes nem percebia que elas estavam lá, já tinha criado um costume, um afeto até.

Um belo dia acordou, mas aqueles pingos de melancolia tinham ido embora. O que faria agora?

Ela tinha se apegado àquelas lágrimas, que tanto traduziam seu próprio avesso.

Pediu aos céus, a terra, ao mar, a todos os santos, todos os orixás, todos os deuses, todas as forças, todas entidades, ao universo... mas nada lhe atendeu.

Em um novo dia acordou. E não, já não lhe fazia mais falta aquele choro, aquela tempestade. 


Estava LIVRE.



[ Dedicado a dois queridos amigos: John e TêPê =] ]

Comentários

Postar um comentário