Encontro Sublime

É difícil começar, pois existem muitos inícios, só lembro que já conhecia o trabalho do Moska aleatoriamente... de novelas, de rádio. Mas sua poesia, de fato, entrou em minha vida no ano de 2006; quando em um show no TCA  (Teatro Castro Alves/BA) - que já comentei aqui anteriormente - pude sentir pela primeira vez uma sensação indescritível.

Lembro que era o lançamento de uma temporada de peças daqui de Salvador e ganhei o convite para ir ao evento que seria 'embalado' por um show do Moska. Bendito convite! 

Um banquinho, Moska, suas amadas  ('viola e guitarra', que não lembrarei os nomes agora, mas sei que tinham!) e um teatro lotado. O show era do CD Tudo Novo de Novo, com mil histórias de lindas fotografias-poemas-músicas.  

Eu estava sentada em uma das filas mais próximas, bem de frente mesmo. Talvez esse tenha sido um dos fatores chaves para minha primeira 'projeção musical' acontecer. Um tipo de estado de encantamento súbito, em que se pode por um mísero segundo, sair do corpo e sentir de fora pra dentro. Era como se conseguisse me enxergar admirando aquela situação, boquiaberta com o que via e ouvia.

É que o Moska tem esse poder de traduzir sentimentos e torná-los compreensíveis a qualquer coração. De se virar ao avesso, da forma mais natural possível e mostrar tudo que a gente guarda, tudo que nos torna mais humanos e às vezes não nos permitimos sentir, declarar ou dividir.  Aquelas tais coisas pequenas que nos fazem grandiosos em nossa essência. Que parece clichê, mas é sinceridade pura.

Desde então, após esse glorioso dia,  minha admiração por seu trabalho só cresce. E está sendo assim com o Muito Pouco (seu novo CD - duplo!), que ainda estou desvendando, saboreando, sentindo...

Posso dizer que à primeira 'ouvida' tive a impressão de ser algo como 'nós já não nos conhecemos antes?'. Como li em um outro blog - e  concordo plenamente -, é que o Moska tem sua linguagem própria. É fácil reconhecer suas canções... e que delícia poder reconhecê-las em novidade.

O Muito me dá vontade de sair cantando por aí, bailando em suas melodias, dividindo com os ouvidos e corações alheios. Destaco: 
- Ainda (bem vinda, amiga/aonde vamos beber?/a vida ainda brinda/nosso amanhecer), a canção que se transforma em cada verso, com nuances marcantes resultado da participação dos delirantes Bajofondo Tango Club;  
- Devagar, Divagar, De vagar (me espere pro jantar/tou indo com amigos por quem acabei de me apaixonar), uma das minhas favoritas, é gostosa de ouvir e a letra me soa como um 'sou livre e te amo também'. Muitas possibilidades, de repente por isso seu título é um jogo de palavras e sentidos.
- Muito Pouco (muito pra mim é tão pouco/e pouco é um pouco demais), que dá nome ao CD duplo e que tem participação novamente do Bajofondo Tango Club. E afirmo que não há casamento melhor que esse! Afinal, qual ritmo como o tango (e eletrônico!) poderia embalar tão perfeitamente uma letra dramática ?

Do outro lado está o Pouco, e me parece uma continuação mansa do 'Muito'. De música cantada baixinho ao pé do ouvido, pra escutar com o coração, pra refletir, pra se identificar, pra dedicar, música pra ouvir em dia de chuva na beira da janela contando as gotas que caem(!):
- Não (disfarço sim, cantando o não/tudo por abstração/não é pra você essa canção), essa é das apaixonantes, parece primeiro amor, brincando de se esconder. É como Cecília Meireles e o seu ‘de cima pra baixo - debaixo pra cima’.
- Saudade (saudade céu cinzento/a garoa/saudade desigual.../saudade eterno filme em cartaz), lindíssima! Participação do brilhante Chico César. Uma dupla das antigas, dando vida a mais uma poesia cantada.
- Sinto Encanto (eu vim do avesso/reverso do que é aceito/ninguém sabe tudo/nada é perfeito), essa poderia estar facilmente no 'Muito'. É simplesmente verdadeiro o refrão quando diz 'canto, porque sinto encanto...'. É uma música que se auto-interpreta.

Como disse, ainda tenho muito à explorar, sentir, entender e desentender (também!) desse novo trabalho do Moska. Como são muitas canções, a sensação é de descobrir uma nova a cada dia, mesmo já tendo ouvido antes.  

Recomendo a vocês o Muito Pouco (pela Biscoito Fino). Deliciem-se!
 

 ["Somos pouco para tanto e muito pra tão pouco" - Moska]

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