Ver-ão.

Já apaguei e reescrevi tantas vezes o que quero
falar, que mal sei por onde começar. É que assim, 
como ele, e como o que sinto, e como esse como 
que não é de comer, eu nunca sei por onde 
começar. É como toda vez que vou contar a nossa
história, que, na verdade, é minha história; e eu 
me alongo, pois não quero só contar, mas 
também relembrar cada detalhe vivido e 
revivê-los. Tentativa besta de descobrir alguma 
novidade, no próprio passado. Tipo...


o eterno balanço da caixa de fósforos,

o nascer do sol ao lado da lua às 4 da 

manhã e de frente para o mar, o quase 

beijo roubado de fim de noite, o filme

que ninguém prestou atenção, o doce

que nunca chegou de viagem, as grandes

conversas de poucas palavras.


Mas sabe quando é preciso parar de sofrer? Eu
preciso parar de sofrer por essas coisas; com 
essas coisas. Falo tanto em amadurecer coração,
mas amadurece mesmo? O meu deve ser coração
fruta da estação o tempo todo, amadurece e cai.
Se estatela no chão. E nem eu mesma consigo 
entender essa comparação ridícula que acabo de
fazer. Deve ser coisa de gente que não larga passado
e tenta floreá-lo com metáfora esdrúxula. Bom,
mas se fosse de entender coração teria momento
certo pra bater, e não tem. É por isso que 
sinceramente, não sei até que ponto sofrer é 
processo de desapegar. Dá pra desapegar feliz,
não? Será que eu consigo? Será que me mudo?
Será que fujo? Será? Alguém me explica por que
no coração a gente não manda? Eu só queria
uma explicação que não fosse a do meu coração
fruta de estação. Na verdade, eu queria uma nova
estação.


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