Meus velhinhos.


Eu virei mãe. Não me contaram, eu descobri. Na verdade eu senti.  Um amigo meu disse que esses são tempos de cuidarmos daqueles que um dia nos cuidaram. Não acho que seja por obrigação. É amor, é natural. Amor não é pagamento retardatário. Com o tempo chega. É de maturar também. 

Agora eu entendo perfeitamente o que tanto ouvia quando pequena, do tal 'entendimento que vem com a idade'. Os anos nos ensinam. E eu estou descobrindo o que é amar de verdade, o que é cuidar sem pedir. E não é fácil, nem claro. Primeiro tive que admitir o meu egocentrismo, pra perceber que eu não estava perdendo, não estou perdendo, são outras formas de ganhar, e essas , não tem medida no mundo que consiga 'cabê-las'. São sentimentos que virão num futuro, que já fazem diferença num presente.

Agora sou eu que digo que quero vê-los crescer, quero vê-los fortes e saudáveis. A pior coisa no mundo é ver sofrer quem se ama. Porque a idade chega e nos traz muitas coisas boas, mas também muitas coisas ruins. E não há com que lutar, mas preservar. 

Hoje faz tanto sentido quando ela diz que a maior  de nossas riquezas é a nossa saúde. E ele quando fala que o homem é aquilo que ele tem no bolso. Ela com sutileza e preocupação, e ele sem meias palavras, mas sempre amenizadas com um jeito jocoso de falar realidade.

Os olho, agora, e vejo a idade da qual um dia também quero que um filho veja em mim. O branco pintando cada fio de cabelo, os sinais que formam mapas em suas peles, os dentes de mentirinha (que se soubesse quando criança viraria verdadeira farra secreta), os lábios já tão tímidos, a fragilidade dos movimentos, a necessidade do cuidar, da presença, do toque, do estar junto, e  até o bom humor em saber lidar com a vida nas situações mais adversas que o tempo traz sem avisar.

Meus pais-avós desde cedo, agora tenho-os, filhos. Com muito amor, aprendendo a amar por completo.

Mafalda | Quino


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