Porque viver é muito.


A diferença era que era um dia comum, como qualquer outro. Acho que não tem dia específico pra receber notícia assim. A ficha não caiu de primeira, também não sei quando vai cair. Não, não quero que caia. Pra quê viver de futuro, se existe o presente. O que acontece é que existe uma realidade relativa e inconstante. E o pior de tudo, condicionada. Nunca pensei viver assim. Mas ninguém pensa, simplesmente acontece. Porque é preciso? Porque tem que ter algum tipo de aprendizado? Com certeza. As situações de impacto, são auto-explicativas. São de impacto, é pra mudar, é pra movimentar, é pra abalar qualquer estrutura pré-estabelecida. Às vezes estruturas que a gente pensa que nunca vão mudar. Mas muda sim, tudo muda. É foda. Sim, é foda, é pesado, é difícil, mas antes de tudo é. E por ser, é preciso continuar em frente. Mesmo às vezes fechando-se num casulo de tarefas, cuidados e dedicação. Apesar de nada parecer suficiente, é como abdicar de viver, mas continuar vivendo, sem ter, apenas viver. Com regras, pelo outro. É também se colocar no lugar do outro e seguir em frente, é tentar entender, mesmo que os sentimentos sejam completamente diferentes. Com certeza a minha situação é muito menos pior. Quem é que quer saber seu prazo de vida? Porque mesmo sabendo que um dia todo mundo morre, a gente não precisa, nem quer antecipar essa notícia. Grande merda. Sair de casa é como seguir em frente. Vento na cara dá vontade de viver, sair à noite, ver as luzes da cidade, das casas, dos postes, dos bares. Sentir cheiro de rua, de cigarro, de bebida. Ver gente, ver o mar, sentir o sol esquentar a pele. Dá vontade de viver. Porque a vida pode sim ser condicional e grandiosa ao mesmo tempo. Eu espero que algum dia isso passe, mas ao mesmo tempo também não quero que passe e o óbvio seja destino certo. Não quero destino certo. Eu quero uma surpresa, boa de preferência. Que viver não seja assim tão doloroso, e que eu aprenda com esse meu egoísmo de querer só o que me interessa. Que eu não demore de captar esse aprendizado, mas que eu também não surte. É preciso viver. Viver, é preciso. Viver é perecer no paraíso, quando a gente não tá no nosso inferno. Ainda que forte, ainda que fraco, seres, humanos, há falha, há muita vontade, de alguma coisa que tô pra descobrir. Quem sabe desse futuro incerto. Quero o bem, quero o bom, quero a vida da gente de novo.


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Pra ver

Porto da Barra - Junho/2011

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