De dia das mães, sem mãe.

A verdade é que eu nunca pensei nisso antes, e de fato, não teria porque pensar. Mãe pra mim era algo imortal, que não se acabava. E por um lado, é bem verdade, mãe não se acaba, nunca. Lembranças, memórias, gostos, cheiros, palavras, aprendizados pra levar adiante. Sempre farão parte. Deve ser por isso, que desde que a minha foi renascer em outro jardim, às vezes sinto que a vida continua normalmente sem ela. E caminha. Deve ser coisa do tempo. A saudade é que é bicho traiçoeiro, vem de rompante, sem dar tempo de refletir nada. Uma dor, um sentimento diferente. Acho que é porque nunca perdi minha mãe antes. Nunca a perdi, e ainda a tenho. Como pode? Ela não está aqui, mas está. Olho todas as noites pro céu, e ela está lá. Deito na cama que era dela, sinto seu cheiro. Queria um abraço, hoje não vai dar. Sei que ela está por mim, por nós que aqui ficamos. Só é difícil entender e acostumar com algumas novas situações que a vida apresenta. Ligo a TV, hoje é "dia das mães", maio é "mês das mães". A minha não está aqui, mas está. Sempre estará. Não dá pra ouvir, não dá pra tocar, não dá pra cheirar, não dá pra brigar, não dá pra pedir conselho, não dá pra contar uma novidade, não dá pra chorar junto, não dá pra rir junto, não dá pra se olhar, não dá pra ouvi-la cantar, contar suas histórias, mas dá. Ela também sou eu. Por mais carinhos, por mais que ombros, por mais que pais, tios, irmãs... nada se compara. Um amigo disse certa feita que era a 'ordem natural da vida', mas eu ainda preferiria que a vida nos levasse para outra ordem. Que doesse menos, que fizesse menos falta. Hoje eu sou assim, contradição, de um pedaço que foi levado de mim, que ainda está comigo. Como pode? Onde quer que ela esteja, será lembrada todos os dias.  Agora eu tenho uma mãe-irmã, uma mãe-segunda mãe e um pai-mãe. Não é tão ruim assim.  Hoje estou mulher, agradeço a ela que mesmo antes de ir me ensinou a lutar pelo que faz viver, que me ensinou a coragem de correr atrás dos próprios sonhos, e sim, aproveitar dos pequenos prazeres que existem nos caminhos, sem culpa e rir, rir de si. A mulher da minha vida. Hoje uma falta imensa, que preenche meu peito, meus olhos, meus dedos. Um amor que nunca vai acabar, nunca. Meu eterno pra sempre. 



[Minha mãe-guerreira faleceu de um C.A. de estômago em janeiro desse ano. Um ano inteiro de uma brava luta. Era preciso aliviar a dor. Agora ela é estrela no meio de tantas outras. Levou seu brilho pra enfeitar o céu.]

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