Sobre o FIM


Ontem mesmo eu estava ao lado do fim. Não falo de fundo do poço ou coisa do tipo, mas sim sobre a certeza de livrar-se de um sentimento ruim, que não amadurece, nem traz aprendizados bons. 

Ontem mesmo eu era despedida, mais um de nossos pais fora embora. Agora somos da geração faça você mesmo, o mundo é todo seu. Talvez os pais não durem tanto mais quanto antigamente, esse mundo agora é outro, é novo, a cada momento que passa. Eu mesma agora, já sou outra.

Hoje mesmo voltei a tornar-me despedida, parece que mais um fim está próximo, e não estou falando de 2012. É mais um ente que pronuncia seu despertar ao contrário. 

Hoje novamente questionei a morte, questionei esse ano, que começou com a maior das despedidas, chamada mãe, e agora ao findar-se leva mais algumas em forma de ponto final. 

Ontem comentava sobre o quão triste é a cerimônia da despedida, comparando-a a outras culturas em que a morte é celebrada com festa e alegria. Mas pensando mais calmamente imagino que o sofrimento também é importante. A dor do agora, não o remoer. Porque alguma hora aquela pessoa fará falta, e não estará mais lá.  É preciso sentir verdadeiramente.

Ontem eu lembrava que na cerimônia de minha mãe, por mais triste que tudo pudesse soar, conseguimos criar um ambiente mais leve. Foi pedido às pessoas que viessem de roupas com cores, que não preto. Teve a parte da religião, em respeito a crença dela , e teve também a parte de homenagens, com alguns depoimentos espontâneos e uma carta que fizemos sobre suas últimas horas de peraltice. E antes que a terra pudesse findar todo aquele momento, uma caminhada ao som de acordeon com a sua música preferida conduzia a todos. 

Hoje eu acredito que a morte também une, mesmo que em dor. Talvez a gente se torne mais humano, mais frágil, mais exposto, mais verdadeiro, já que na vida aprendemos a buscar o acerto e o ser forte o tempo todo. É preciso uma trégua para sobreviver. E ninguém está preparado, não tem como sabermos ou nos prevenirmos daquilo que nunca sentimento antes, a verdade é essa. A certeza é que o fim sempre chegará para todo mundo. Sempre. E o que mais tenho aprendido é: não guardar sentimento, nenhum, pois de fato, pode não haver amanhã pra sentimento trancafiado, nem daqui a pouco.


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