Amor e dor.


A dor mobiliza. Chego em casa, 5 minutos se passam e tocam a campainha. A vizinha, senhora de idade, caiu, avisa uma outra vizinha. Ligo pra filha dela pra avisar do acidente, tentando encontrar as melhores palavras pra evitar desespero à mais. Desligo o telefone. Eu e a outra vizinha fazemos os primeiros socorros, nada tão grave. A senhora tropeçou num fio ao sair do banheiro, se desequilibrou, caiu e machucou o ombro e o supercílio. Algum sangue espalhado por seu rosto, e mesmo assim fez questão de nos avisar que ela já estava pondo gelo no braço desde que caiu, e levantou, imagino. Qualquer pouco de sangue sempre parece um muito de tragédia. Volto em casa pego algodão, antiséptico e um bandaid do tamanho de seu corte. Me direciono até a senhora novamente, já sentada em seu sofá seguro. Limpo seu supercílio, passo o antiséptico, coloco o bandaid. Ajeito a compressa de gelo que está em seu ombro. Ela acha que quebrou algo. Olho para a vizinha que teve o primeiro contato com ela, um olhar cúmplice sobre o desespero e grandiosidade motivados pela dor. Damos a boa notícia que se tivesse algo quebrado, muito provavelmente ela nem conseguiria estar falando conosco. Ela quase não parece acreditar. Passam-se mais alguns minutos chegam a filha, uma outra filha, e um outro filho. Todos reunidos, e nem é natal, e nem é aniversário de ninguém, muito menos dia das mães. Enquanto um reclama da teimosia da mãe-senhora, a outra tenta entender o que aconteceu. O outro por acaso lembra de minha mãe, e o quanto se surpreendeu com seu falecimento urgente. Pois é, eu também, até hoje. Mães. Todos alí reunidos. Resolvem partir para o hospital. Antes de saírem mais um dos filhos da senhora chega. Hoje, particularmente, esse é o segundo acontecimento que me dá a certeza do quanto a dor está e faz parte do amor. A dor mobiliza.




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