Originalmente clichê, deixe ser.


Eu sou adepta do clichê. E seria o clichê uma vertente brega da paixão? Ou a paixão é o brega do amor? Ou o clichê é brega por si só? Vai saber... Eu ainda acredito, baseada em uma de minhas teorias-práticas de vida, que mais falta compreensão do que classificação. A gente sempre cai na tentação do classificar ao invés de só sentir sem querer controlar, afinal o 'dar nomes' também é uma forma de mergulhar num falso controle. Ora, quando se sente, não tem classificação e teoria certa, a verdade é que a gente acaba descobrindo aquilo que há de mais genuíno e sem classificação dentro da gente. Tipo certa feita, ainda em vida, em que minha mãe me confidenciara a rotina de se perfumar antes de falar ao telefone com um certo amor quando jovem. Por qual motivação? Estar perfumada para seu rapaz, que lhe escutava há quilômetros de distância, enquanto a mesma imaginava que este sentiria seu mais cheiroso perfume? E pior, sem nenhuma possibilidade de 4D cheirinho via ondas de frequências... É mais uma das re-ações criativas possíveis dentro do sentir, que pode ser brega, e nem tão clichê assim. Engraçado é que os anos se vão e eu só faço reafirmar esses meus pensamentos. Lembrando de minha mãe, por exemplo, e das experiências que tive com amores passados (realizados e não-realizados) de declarações, cartas de amor, músicas dedicadas, composições em duo, dancinhas e outros clichês adoráveis, me peguei outro dia escovando os dentes antes de falar via skype (uma releitura moderna de minha mãe?). Daí que eu continuo achando que essa coisa de ter atitudes ridículas ( [  ] sem noção [  ] surreais [  ] surpreendentes - marque aqui sua opção ou crie), tem tudo a ver com o clichê, com a paixão, com o amor e com a não-necessidade de classificação de tudo. É que ser ridículo é massa, e só comprova o quanto de sentir se permitindo, a gente pode ser capaz e às vezes não arrisca, só pelo medo de não ter como classificar, não ter onde se encaixar ou não ter onde se apoiar. E se não tiver chão, parede, razão? É por isso que dentro de minhas teorias-práticas, bem assim contraditórias-complementares como é a vida, o tal do compreender (via tríade: viver-sentir-permitir) tá valendo mais que ter controle e ser certo em algo ou pra alguém. Eu sou adepta do clichê de ser, e do jeito ridículo que se é.


Desenho por Roly Arias



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