No interior do pra sempre.

O tempo na cidade já não era mais o mesmo. Revelou-se então o tempo regrado e finito. E dentro do finito tudo que se chamava de fim imediato. Além de finito, o tempo também era urgente, uma urgência regrada de fim. Com hora marcada, sentimentos pré-estabelecidos, posturas a serem seguidas à risca. Alguns chamavam de trabalho, outros de garantia de futuro (ainda que desperdiçassem o próprio presente), já outros, de ordem, organização, praticidade. Era luxo ter tempo ao tempo e não fazer nada era sentimento de ofensa a quem tanto do tempo reclamava, justamente pela sua falta, pela sua finitude. Até que o tempo cansou de ser finito, de ser controlado sem ser sentido. O tempo foi embora pra longe. Os relógios pararam, o tempo fugiu do capital da capital e foi-se embora para o interior do interior. Desacostumado com a calmaria natural, demorou em acostumar-se com o nada, aquele vazio que não tem necessidade de preenchimento. Agora o agora era definitivamente o presente. Os minutos, os segundos, as horas, os dias não tinham mais obrigações, senão somente as de existir, sem limites. O frescor do vento, o calor do sol na pele, a comida sendo mastigada dente a dente, o sabor se perpetuando em cada papila, o sono sem despertador, a manhã que se findava na imensidão do céu, a transição das nuvens, o barulho do silêncio, os olhares de primeira vez para cada acontecimento, o som das palavras... Dentro de cada descoberta o tempo ganhou o prazer do sentir infindo. Aquilo que se chamava para sempre, e que voltara a ter o sentido que algum dia já havia tido. O tempo infindo do para sempre se escondia justamente no sentir das coisas. Não era mais importante a quantidade daquilo que se contabilizava viver ou que ainda seria vivido, mas a intensidade absorvida de tudo que estava vivo no instante, no agora vivido, apreciado, notado, constatado. O tempo então fez-se de para sempre infindo, não mais para ter sentido, mas para ser sentido. No interior o tempo descobriu-se já ser para sempre.




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