Sobre horizontes, interiores e capitais.


A primeira vez que senti essa sensação foi em uma viagem até Vitória da Conquista, interior da Bahia, alguns anos atrás. Parece que era a primeira vez que eu via uma cidade com horizontes tão alcançáveis. Quem sabe o fato da falta de horizonte não ter tido um peso maior antes, eu só tenha a constatado sintomaticamente naquela ocasião. Muito inspiradamente pela rotina crescente dos prédios cada vez maiores em Salvador. Daí que nesse último feriado, essa mesma sensação se fez presente. Me fazendo pensar na profundidade que habita a palavrar 'interior' e de poder, estando nesse interior (lugar), encontrar o verdadeiro horizonte, tal qual fosse imensidão interna, não só de visualizar, mas de sentir. Na cidade, outro dia, andando em meio a uma das avenidas principais, a única coisa que conseguia ver em minha frente era um horizonte comprimido, permeado de prédios, transformando o mar-horizonte em um filete quase inexpressivo. O mar parecia que seria espremido até sumir. E quem sabe a gente não tem feito da vida na cidade um horizonte prestes a se perder? E não pela distância natural, em que por estarmos longe de algo este se afasta lentamente de nosso campo de visão, mas justamente pela falta de visão. É como se todas as palavras figuradas fizessem todo sentido quando do estado em que nos colocamos nesse mundo urgente: somos concretos do capital, entre prédios que espremem céus, provocando calores des(h)umanos, perdemos horizontes infindos, trocando milhares de estrelas no céu por extraordinárias luzes artificiais. É como se tudo pudesse caber dentro de algo pra fazer sentido. Mas o horizonte é imensidão que não cabe. Estando dentro ou fora, comprimido ou expandido. Talvez a capital não saiba, mas a riqueza tá mesmo é no interior, com seus inestimáveis horizontes.

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