Do que não nos ensinaram sobre o fim.

Sabe o que acontece? A gente não quer se dar o prazer de viver a dor, a despedida, o vazio daquilo que não é/está mais. Olho ao redor e vejo o quão somos frágeis e o quanto nos fragilizamos ao ignorar ou simplesmente evitar os fins. Quem sabe essa atmosfera de contos de fadas infantis ou mesmo o amor romântico tenham nos influenciado a evitar os verdadeiros finais. Não só os que sonhamos ou desejamos, mas os reais. Talvez muitos fins sejam determinados por algumas condições (des)humanas. Tem gente que desde muito cedo já entende dolorosamente sobre o fim. Nos últimos anos tenho aprendido que a dor pode não ser assim tão justa, contudo é parte, e isso tem sido recorrente aqui nesse meu canto. Não sei se é caso de tê-la evitado um tanto ou se é justamente pra aprender sobre a convivência com a mesma.  O ano que se finda agora foi marcado por finais. Importantes. Olho para a foto em família que ilustra esse texto, e dentre as pessoas que estão nelas: eu, minha mãe, minha irmã e Cindy. Duas delas já não estão mais presentes. Me dói. Das duas saudades uma ainda é mais recente. Sendo que a primeira chegou dilacerante, mas não menos crucial para me ensinar profundamente que tudo, mas tudo, tudinho mesmo nesse plano tem fim. O que a gente teima em chamar de eterno talvez seja na verdade transformação, porque as coisas, pessoas, sentimentos, posturas se transformam, e quem sabe isso nos dê a impressão de continuidade. Porém uma continuidade com validade até que saibamos enfim o que existe nessa não existência pós existência. Hoje percebo e sinto melhor a saudade, a falta, o vazio. E sei que todos eles são importantes revelações de nós mesmos, do que somos formados, em que estamos mergulhados e enraizados. Temo por não nos contarem sobre o fim, é como a dualidade perigosa e conveniente do bem e mal, é como a mania de classificação de tudo e todos, apenas para termos controle de algo, quando a vida é descontrole, quer a gente queira, quer a gente não queira. Queiramos, ao menos no presente do agora reconhecer o fim. Não é minar o futuro, é se permitir sabê-lo: triste ou doloroso, aliviante ou perturbador, libertador ou temporário. É etapa, que seja vivida e não ignorada ou temida. Acontece. Somos sortudos donos de finais exclusivos. Mesmo que sejam mais comuns do que se possa imaginar. Sabemos onde queremos ir,  às vezes sem tanta veemência assim, mas sabemos ao menos o que não queremos. Mesmo que a gente não queira e não tenha aprendido a querer o fim, justamente por ser algo nos ensinado muitas vezes como negativo. Não. Não é, é parte. Quem sabe o tanto dessa ansiedade pelo futuro não seja a necessidade de atropelar o foco de tudo que tem final? Por isso que viver o agora a vera é base para qualquer experiência que há de ficar ou não. Mergulhar nesse mar imensidão-vida sem medo de seguir até o fundo e das surpresas possíveis de encontrar. É simples assim na teoria, todavia a prática é que dá o tom de todos os nossos caminhos e também dos nossos fins. O que seria da lembrança, da esperança, do desejo sem os finais? É que cada pedaço de mundo e de gente também está fadado a nascer fim. Sejamos e não (n)os ignoremos. É tudo parte.




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