eu sei, amor

Tutt’ Art
                         eu sei, amor,        
                                                                                      não vai durar
                                                                                   ainda que chama
                                                                              o que queima é pavio.









a mente em busca daquilo que ainda não se viveu, preenchida por expectativas de ex-futuros e atuais passados, nenhum presente. as histórias que se repetem, de si, dos outros, ficções da vida real. viver e seu roteiro inesgotável. o coração e a sina do sentir, de inventar histórias que moram em outros corpos e se compartilham ou deixam de existir - pra viver ou desviver - quando em duo. desejos carnais rebuscados ou mesmo os mais óbvios. o sonho do amor próprio. quando me falaram do fazer amor ou de quando o ouvi por aí, não imaginava o quão mágico pode ser esse acontecimento. não que eu saiba. acontece de ser desconfiança. de nunca ter vivido o tal verdadeiramente. tesão é bom, pra caralho. mas tem breve validade. talvez esteja subestimando o sentido de fazer amor, mas acho que nunca. talvez nunca. talvez nunca dentro do que eu imagine que seja. nunca contaram-me os pontos de nascença na pele, nem os quiseram ligar. nunca um dedilhar com calma, ponto a ponto. consciente. talvez esteja mentindo. pode ser que sim que tenha acontecido. uma? duas vezes? uma quase lembrança no agora do que pode ser essa sensação. desconfio, quem sabe, de uma falta de reciprocidade mais instigadora. e bom, pode ser isso o fazer amor, de fato, um mergulho duplo, que começa devagar, por não ter pressa de chegar logo ao fim, até encontrar a máxima intensidade. enquanto não descubro, adquiri a sina pelo sentir. a pressa cansa. deve ser a idade também, a tal necessidade pela qualidade. o tempo passou e certas coisas não são mais tão imediatas. o sentir é uma prioridade. sentir com qualidade é uma prioridade. não é apenas viver, experimentar, estar longe movida por sensações externas, é estar presente e mergulhar no outro. sair de si estando com, eu diria. é muito? não sei. mas desconfio que isso não é apenas escolha. acontece. e quanto mais penso, menos acontece. não aconteceu. ainda. como quando fiquei sem beber por três meses seguidos. não senti tanta falta assim. bem verdade que encarar as noites de cara não é lá tão tranquilo no início, mas depois atentei para outras possibilidades e distrações. até que os três meses passaram. na reestreia alcóolica apenas não soube o limite. foi bom, mas também foi péssimo. não sabia onde parar. vomitei, tive todas as ressacas. aprendi mais sobre a calma. por mais que pareça uma comparação sem pé nem cabeça. faz sentido ao menos pra mim. tou no gerúndio dos quase 30 anos. ter calma, paciência, me permitir sentir nunca foram objetivos tão presentes na luta diária versus a ansiedade monstra minha e do mundo. é... eu sei, amor. um dia esse dia vai chegar, ainda que com validade. eu sei, amor, e vai durar o suficiente do tempo de sentir. posto que chama: é fogo e também pavio. vai queimar. terei mais uma cicatriz. não de ferir, mas de marcar.


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