Dentro de Elisa


Confiava na crença que ele tinha sobre ela mesma. Acreditava mais em si auto-projetada do que na dura realidade de ser apenas mais alguém. Conhecia muito bem sobre os fins que habitam a vida, e às vezes parecia-lhe que ela própria os provocava, bem como os testava existentes de alguma forma... como se sofrimento prévio pudesse ser menos pior. Sabia do tempo, do contratempo e dos mundos diferentes e habitados. Em sua cabeça vez em quando pousavam traumas conhecidos e um medo de fazer revirar o estômago, mais que as tais borboletas. "- Se não for pra ser escolha (não me permita). Não me permito ser mais uma vez opção.". O cansaço lhe atormentava, como conviver com tamanha angústia fantasma? As pessoas mudam e as intensidades também. Como lidar com o imprevisível de dois mundos ao mesmo tempo tão próximos e diferentes. Medo de não ser ponte, não ser parte, não ser plano, não ser futuro... ser apenas agora fugidio. Que a depender ~ de algum quê ~ poderia ser sim e não. A outra já havia lhe dito certa feita o quanto a vida é feita de construções. Como se sua ansiedade tivesse tempo para a compreensão! Deveria, mas preferia perder-se no sentir. Era sempre assim. Bastava algo sair do lugar e novamente o rebuliço das expectativas permeavam seu corpo, em festa, tsunami de sensações correndo por cada veia. Queria que o agora se vestisse de solidez e não mais de solitude. Que o morno não fosse pedaço, e que o surpreendente fosse inteiro. Queria se emocionar. Viver da emoção constante que habitam os dias e não só os princípios. Queria ser regada quando sempre por gestos ou palavras, sem precisar lembrar. Queria o natural vestido do seu querer (expectativas). Porém sabia do tempo. Ainda que tantas noites tivesse passado em claro. Sabia que o dia seguinte era quem lhe traria as respostas. E estava tudo lá, quase como o encontrara. Talvez num lugar menos intenso, ela menos novidade ou prioridade. E isso também é a vida. E não era ruim, às vezes. Sabia que mesmo que lhe parecera bom o suficiente, um buraco tomava-lhe o peito: o que você quer de verdade? Medo de atrapalhar caminhos, fases que não mais lhe pertenciam, momentos vividos que já não eram mais sua realidade (pensamentos esses que brotavam de si ou dos outros?). O agora também era único, algo que nunca viveu. O novo, o desconhecido, o que não tinha fôrma e nem formato. Lhe assustava. Sair do conforto das próprias certezas em troca de ser mais moldável, em desafiar-se por algo que talvez não pudesse ter controle sobre... o indefinível. Ele era o indefinível e ela tinha medo.



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