a arte de cozinhar,


o cheiro da comida comove, adentra, toma, invade e ronda todo o apartamento. a vizinha bate à porta curiosa pelo sabor, e só não lhe ofereço na hora, pois o ritual ainda não está findado. o que não impede que um convite para o almoço do dia seguinte seja feito. desde que redescobri a magia de cozinhar, a vida parece - sendo bem clichê - ter um gosto diferente. é que o cozinhar possui tantos significados... cozinhar a própria comida é um ato de amor a si. desde pequena observo os que cozinham à minha volta. tenho ternas e deliciosas lembranças. de minha mãe, seus peixes e receitas manauaras, do doce de leite caseiro de hoooras de meu pai, das feijoadas a cada dois de fevereiro de minha segunda mãe, do bombom de chocolate com recheio de cupuaçu maisgostosoquecominavida de minha tia materna, das invenções sempre deliciosas de minha irmã e dos doces que um dia arrisquei fazer e deram certo (UFA!). morando sozinha então, é impossível não encarar a cozinha de corpo, alma e coração. e desde que comecei, se tornou algo viciante. não é que dê vontade toda hora, mas quando começo, mergulho. são mil receitas que vão aparecendo e se tornando reais. cozinhar é um ato de magia, transformar texturas, sabores, cores, tempos. descobrir temperaturas, se queimar, ter marcas-memórias no corpo e no paladar. acho que todo esse amor e potência tem ressurgido dentro de mim após pagar uma promessa, de agradecimento, de algo que se concretizou. tenho aprendido que na vida agradecer é mais valioso do que pedir. por sete semanas cozinhei sete caldeirões de mungunzás, sem nunca ter feito mungunzá antes. com o tempo fui melhorando, claro (graças a deusa das cozinhas!). a receita já vinha mentalmente... além do improviso, do sensitivo, da intuição. agora, se eu vivesse pra cozinhar, teria um sério problema ao ter que seguir à risca a medida dos ingredientes. se tem uma coisa que amo na cozinha é o poder de intuir e experimentar. deixar fluir. que a pitada de sal venha através dos dedos e não de uma colher. é um risco, também. mas a prática leva à medida certa. ou quando a própria medida certa é o sentir. tem muita bruxaria na cozinha. e é por isso que a energia precisa estar confluindo. cozinhar é dar amor a si e a todas outras bocas e estômagos... alimentar, saciar, dividir, congregar. a cozinha é uma metáfora linda sobre o crescer, sobre paciência, tempo e atenção, sobre o cuidado e o amor. cozinhem, experimentem. a única parte ruim mesmo, como tudo na vida, é que as louças... ah, as louças! elas estarão lá pra mostrar que tudo sem-pre tem dois lados. 





Comentários

  1. Ameeeeey ... a metáfora das louçaa foi a cereja do bolo... ou melhor... o ardor da pimenta.

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