Calma,


Agora estou, e não sei ao certo aonde pertenço. Ao que pertenço? A maior constatação de se jogar no mundo, para o mundo, pelo mundo, é saber que sempre estaremos sós. Ninguém nunca alcançará o que somente nós podemos sentir, perceber, enxergar. E isso também é bom. Aguça nosso poder de adaptação, nossa sensibilidade dentro da instabilidade. Uma espécie de crescimento único ao qual precisamos nos permitir. Observo ao redor, nos outros e em mim, uma ânsia de alcançar alguns objetivos calcados em estigmas, daquilo que nos ensinam sobre ser adulto, amadurecer ou mesmo sobre ter vitórias. O que são as vitórias? Para quem são? Partimos de princípios e referências coletivas, mas nossas construções de caminhos são intrinsicamente individuais. Incluindo nossas escolhas de vida (quando possíveis socialmente), com o combo de suas respectivas consequências. E talvez, quando partilhadas em alguns relacionamentos, parte delas se percam para que nasçam outras tantas. Venho aprendendo bastante sobre essas construções, sobre seus tempos. Tenho ainda vários sonhos em mente a viver, porque antecipá-los? Quando é a idade certa? O que é ser umx vencedorx? Depois de uma época marcante da vida - os tão simbólicos trinta anos - a impressão que dá é a de que estamos prestando contas: com os que nos cercam, com quem crescemos, até mesmo com gente que nem significa tanto assim. E se eu apenas quiser seguir um caminho diferente? Absolutamente contrário, inesperado pela maioria. É uma derrota? E se eu escolher a calma, o meu próprio tempo. Os planos que não são medidos por idade, pelo senso comum ou pela comparação com os outros. Deveríamos nos permitir fazer mais escolhas por e para nós mesmos. Daí as inspirações, em que nos espelhamos, careceriam ser apenas motivações e não oportunidades de nos sentirmos menores que, atrasados com ou frustrados por. Somos universos tão únicos eternamente em construção e já tão cheios de prazos e metas, os mesmos que teimam em se expandir fugitivos e amedrontados de qualquer tipo de dor que sufoque. Às vezes vamos sufocar sim, pra conseguir entender o quão é importante respirar. Afinal, a quem enganamos? Como querer ser e não se ferir? E sem doer? Nem tudo é bom o tempo todo, nem a gente mesmo é. Aprender a se conhecer nos economiza de um tanto de sentimentos inúteis, que nos consomem. Que a gente aprenda a ver e viver o tempo a nosso favor: com coragem, com fraquezas, pedindo ajuda e ajudando, voltando atrás, deixando para trás, assumindo as vulnerabilidades e belezas de sermos humanamente ridículos que sonham e, SIM, (se) realizam das mais diversas formas possíveis. Eu acredito.

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