de quando primeira vez (ou uma quase ficção) - parte 1


existe em mim uma certa dificuldade com a objetividade, traçar memórias vividas que tenham existido de fato ou priorizar os desejos secretos daquilo que gostaria que realmente tivesse acontecido. aconteceu ou viveu/morreu dentro de mim? quando te vi eu não te vi. não havia intenção. apesar de já ter aprendido que nada é à toa. como dizia uma amiga bruxa: veio do tudo (nem o nada vem do nada). enfim, temo a prolixidade por conta da necessidade de tornar mais captável o acontecido em sua riqueza de detalhes. amo os detalhes, dão o tom. é como ver algo acontecendo com e sem uma trilha sonora. dar corpo à imaginação, ao nosso poder imaginativo das situações. pois sim... aquele era um dia confuso, de muitas informações. lembro de te olhar de soslaio, achei bonito, guardei. durante a noite presumi algum contato através de uma brincadeira, você não alimentou. depois reapareceu com alguma pergunta superficial, era teu contra-ataque. não pesquei naquele momento. depois passou, você tomou a iniciativa da aproximação. eu tinha as melhores indicações. porém nem todas as certezas. parece que a vida gosta de nos testar. daqui em diante adiantamos a história em três meses. sim, três meses. acho engraçado e irônico que tenham se passado tantos dias até que a gente se tocasse de verdade pela primeira vez. é como se no antes tudo fosse o desejo. naquele noite estava decidido por nós, pelo universo e até em atravessamentos externos que tudo então seria. antes disso, foram semanas de uma inquietação crescente, choros embaixo do chuveiro, indagações sobre o que era real ou não, conversas simples com ensinamentos que desnudavam nossas personalidades. quem somos? o que queremos ser ou parecer? a sedução pelo desconhecido. aqui estamos nesses três meses depois. há música, há cores, há brindes. de repente estou em seus braços, forjamos uma dança desajeitada porém cheia de curiosidade. não há urgência em qualquer tipo de iniciativa, o foco está nos sinais. paramos por um momento. atrás de nós uma porta. encostamos nela e lado a lado fingimos solenemente ignorar toda a precipitação que passeia por nossos corpos. me sinto completamente vulnerável, entregue, cheia de receios. vontade de apertar sua mão, vontade de virar em sua direção e te roubar um beijo. coragem, me falta coragem, nos falta. um breve avanço no tempo durante essa noite tão cheia de expectativas. estamos defronte ao mar. até aqui uma uma rápida leitura de nossos corpos e posições revelaria tudo o que ainda não conseguimos expressar em palavras. decidimos por ir embora juntos, você me faria companhia até a chegada em casa. é engraçado perceber que toda oportunidade de estar perto se faz presente nas formas mais sutis. seguimos em velocidade mínima até meu destino final, nosso.

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