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São quase 9 meses de isolamento pandêmico. De março até agora, novembro, muitas coisas aconteceram no mundo e ainda acontecem. A realidade nunca esteve tão hiperfocada - para todos - quanto ultimamente. Pra quem ainda permanece em casa, principalmente... Tem sido difícil ler e compreender as pessoas. Não falo sobre aqueles que precisam sair, mas sobre os que preferem não permanecer, e se arriscam a um mundo que sublima algo grave e profundo por trás de um título de "novo". A gente se engana muito rápido, fácil dentro de nossas dores, insatisfações, rebeldias. Tende a se acostumar com o que a gente quer ver, ao invés de se adaptar ao que já está, perceber os sinais. Nem sempre será o que queremos, mas como a vida se apresenta. A bem verdade é que não resisti ao meu isolamento de você. É estranho, pra mim, que eu me afaste justo quando você confessa algo tão importante que está passando em sua vida. A vontade que sempre tive foi te dizer que você não está só. A questão é que eu sim, me sinto assim, só. Pareço criar desculpas para não seguir, como se você fosse ficar desamparado em algum momento. Fico aqui pensando enrolada nesse desejo de te contar tanta coisa que sinto e sempre senti. Com todo esse cuidado de pensar em suas vulnerabilidades, de que não apenas gosto "tanto de você", mas que aprendi a te amar. Que já descobri por que, pelo que, por quem me apaixonei. Não é só vontade de amar o amor, mas ter vontade de partilhar minha vida com você. Acontece que mesmo depois de quebrar esse silêncio dos últimos dias, e me ver sem máscaras perguntando mais uma vez como você está, me pego pensando que você nem sempre responde o que te pergunto. E isso diz muito. Tanto sobre minhas expectativas, quanto sobre o que estamos à vontade ou não em partilhar. Tenho aproveitado esse contexto de realidade hiperfocada pra refletir bastante sobre meus padrões. Tem muita coisa horrível de perceber, que não basta criar consciências... observo como sempre volto a me machucar, como sempre acredito que algo está superado criando novos normais pra mim, quando tudo apenas ainda está e necessita tempo e atenção. A cura nunca foi sobre compensações ou urgências, geralmente nada funciona bem assim. Não quero que meu sentir se condicione ao bem estar do meu ego ou do outro, do seu, isso tudo é muito frágil, e apesar de ser também sobre vulnerabilidades, não é o que penso manter como verdade. Claro, sim, é inevitável que relações se confundam com o que estruturamos em aprendizados ao construir quem somos. Dentre tudo isso, estão nossos egos também. Mas é sobre algo mais profundo, que não costuma se enganar. Que não teme. É triste ver quanta coisa que se perde por esse medo de ser real, e o quanto temos em geral nos limitado a aceitar o que não somos. Feridas, cicatrizes, confusões, sonhos inacabados, medos, traumas tudo isso nos faz parte, e é real, não deveria estar escondido. Daí que com o tempo é possível sentir quando se está passando de um limite. E me sinto assim com você nesse momento, como em todas as vezes que eu deveria seguir, e voltei. Mas agora parece ser diferente sabe, me atenho ao sinais, os teus. O seu findar de palavras, a tua não procura direta, só por meios indiretos e é isso... A vida dá sinais. No que eu e você temos insistido, se não estamos à vontade para nos confessarmos em nossas verdades? Eu preciso criar coragem pra seguir. Compreender que mesmo te amando, e tendo permanecido por acreditar no real em nós, há limites. Saber reconhecer que o que está dado, é o que se pode dar. E talvez eu apenas tenha me condicionado a achar muito, qualquer pequeno passo que você dá. Mas é como se ainda estivéssemos em fevereiro, quando você evitou que converssássemos, você fugiu. Você sabe. E como posso ficar se não há certezas para construirmos juntos? Não quero ser urgência, preenchimento de falta e nem compensação da vida de ninguém. Isso tudo vem como cobrança depois, seja de um lado ou de outro. E o amor que eu procuro, tem mais sobre querer estar porque se quer e pode estar, que não há necessidade da fuga, que reage, que se importa, que se coloca, que sente e mais importante de tudo, que se comunica, revela, ainda que esteja em aprendizado. Não tem coisa mais bonita do que ser sincero com nós mesmos. Porque antes de chegar até o outro, esse fio nasce de um ponto de verdade. Te quero bem, que você continue aprendendo, como diz estar, que sua família seja teu pilar, como é. Que você nunca precise negar seu afeto e saiba dizê-lo com todas as palavras. A vida nos apresenta sinais, e eu não posso apenas colocar uma máscara e fingir que tudo está bem, quando não está. Te amo, te quero livre, me quero livre. Quando for para estar... estaremos? Até lá, muitas coisas aconteceram no mundo e ainda acontecem.

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