1 dia para o fim de agosto de 2021

é sempre muito ruim conviver com o tropeço daquilo que não continua. muito pior que não começar, é iniciar um caminho com aquele tropeço que vem pra desconsertar tudo. não falo das intempéries tão parte da vida e de tudo aquilo que se libertou da perfeição, mas do tropeço de algo ruim que se repete. uma rua esburacada num dia de chuva, um quebra-mola em alta velocidade, um escorregão num chão seco. fico me perguntando: o problema sou eu? tenho buscado esses tropeços que de alguma forma estão reforçando lugares em mim, em que ainda não admiti que sou fraca e que preciso dar mais atenção? uma vez conheci uma pessoa, e sei lá, acho que nós dois precisávamos alimentar nossos egos mutuamente, foi um encontro de egos. tinha desejo e tal, mas sei lá, era tudo muito, e nem falo de drama ou intensidade, mas alguns detalhes se excediam. até que passou do ponto, não um ponto violento, mas de expectativa-cobrança. foi a primeira vez que ao dar limite a uma pessoa, tive como retórica: logo você, que fala tanto de afeto, porque tá agindo assim agora? a única coisa que eu estava fazendo era dar limites, e a pessoa egoicamente tocou num ponto muito importante pra mim, ele sabia disso. fiquei refletindo sobre aquilo. apesar de saber que ele queria me magoar, se vingar, se fazer percebido de algum jeito, aquilo me tocou de outras formas... será que eu era uma farsa? será que eu sempre fui uma farsa? será que eu não sei amar? fico pensando nas referências que tive... será que busco o amor de meu pai e de minha mãe em outras pessoas? sempre sinto em cada início uma necessidade de ser adorada. talvez aí a farsa se encaixe. lembro que mesmo sendo destroçada fora de casa por uma cobrança estética escrota, eu sempre fui muito amada por meu pai, minha irmã e minha mãe. elogios, afagos, um bem querer seguro. daí minha mãe falece, meu pai tem uma doença de memória e minha irmã tem priorizado seus próprios caminhos. o que ficou do que construí com eles? meu pai sempre que me encontra pergunta: você tá sozinha, filha? sim, pai, há anos. daí penso... mas o que é estar sozinha? também imagino que talvez a vida me entregou uma missão: agora você vai se preocupar só com você e parar de criar amores ilusórios e alimentar relações de migalhas, minha filha. até você aprender sobre isso, vai continuar sendo assim. às vezes reflito que estou só (mas que porra é estar só?) porque aprendi sobre o amor de uma maneira errada. durante a pandemia fiquei pensando: meu deus, vou terminar sozinha na vida? e o que estar só? tenho amigues tão incríveis e presentes, uma família que me escuta, que me é parte. O QUE É ESTAR SÓ? ao tempo, que gosto de me projetar dividindo vida, compartilhando sonhos, construindo realidades. eu não funciono só. eu gosto da solitude. das coisas mais legais desde quando me tornei palhaça, é que eu amo fazer os outros rirem, e perderem a compostura, sair do óbvio. eu odeio tudo que se limita e se comprime no definido como imutável. não suporto ser colocada em nenhuma caixinha. eu não sou uma coisa só, nem ninguém é. ao tempo que sou uma ótima conselheira de relacionamentos, exceto que tenho falhado comigo mesma. ou seja, palhaça. na vida, no palco. o humor como subterfúgio. eu acho que tenho medo do amor, e talvez todos esses tropeços sejam o medo de seguir em frente, mesmo que ralada. medo de apostar em algo sabe? porque a vida toda, boa parte dela, eu tive que viver sendo frustração. nunca era o bastante pra estar num padrão. no início de agosto reinstalei um aplicativo de relacionamento, tenho uma relação extremamente confusa com isso. às vezes não suporto, às vezes não tem jeito. daí que tenho conversado com um cara que parece ser bem legal, e disposto. amor precisa de gente disposta, né? mas aí que com a pandemia, se eu já tinha meus traumas em confiar em homem, parece que piorou. já pensou morrer porque tava afim de dar, e nem valer a pena? e sei lá. isso é amor ou fogo no koo? é difícil se relacionar com homens, e acreditar neles também. fico esperando a hora da frustração. (que horror, mas é verdade). que vai dar uma merda, que vou ser trocada (rola muito...), que vão cansar de mim. eu acho que não aprendi o amor como continuidade. talvez na minha cabeça ele esteja como fim. e tudo que não envolve as frustrações é o que vem antes, e o agradar, e o transar muito porque tudo é novidade, e apegos, e bobagens. que triste. eu sei que tá tudo errado, quem sabe o trabalho do des-re-construir esses sentimentos seja muito maior do que imaginei. por isso sou melhor com os outros do que comigo. ah... a história do carinha legal, já ía me esquecendo. temos bastante coisas em comum, outras não, o papo flui legal. tivemos duas tentativas de nos encontrar. na primeira fiquei ressabiada por motivos de covid, não rolou. na segunda vez, ele acabou se passando com o horário porque tava com a filha e ficou tarde pra ser ver, e era dia de semana, e no outro dia todo mundo acordava cedo. sim, ele tem uma filha pequena. e sei lá, me sinto uma idiota egoísta pontuando isso... mas não sei, me lembrou as bandeiras vermelhas que o João Marques fala. (o João é um psicólogo maravilhoso que sigo em outra rede e fala muito bem sobre as dinâmicas das relações heterossexuais). bandeira vermelha no sentido de atenção. se você marca algo com alguém, e aquilo lhe parece ser importante, há um cuidado. a pessoa pode se distrair? pode sim. mas fiquei encucada. eu sou muito cuidadosa, mandaria uma mensagem, falaria de atraso. mas sou eu, e não o outro, né? daí já broxo sabe, sensação de ser trocada. e ao mesmo tempo de tá sendo muito ridícula, como se tivesse cobrando algo sem cabimento (além de parecer que tou querendo competir com uma criança, com um laço de sangue, de vida toda). é o que sinto agora. claramente não pontuei isso pra ele porque achei que não convinha, falar sobre ter mandado uma mensagem antes etc. fiquei com a sensação de que tinha algo mais importante do que a possibilidade de nos encontrarmos... e será que foi só hoje? ou isso vai se repetir? e se a gente se envolver, isso vai ser uma frequência? pode parecer exagero, mas no meu primeiro relacionamento, a pessoa queria namorar uma semana depois de nos conhecermos (e era carnaval, sabe, muitas fantasias). daí pedi pra esperar um mês (vamos nos conhecer melhor). com um mês, depois de me pedir em namoro, ele disse "te amo" (fiquei sem resposta pra dar). no quarto mês avisou que a prioridade dele era a pós-graduação, que não entendia porque eu pedia atenção ao relacionamento da gente (justo no momento que eu começava a entrar de cabeça o jogo virou). agora me diga: PRA QUÊ DIABO QUIS NAMORAR, INFERNO? eu não entendo isso, essa necessidade de mexer com quem tá quieto e agilizar pela régua da necessidade de si. ói o ego, de novo (e o abuso psicológico-emocional). uma merda tudo isso e que me fez repetir várias coisas ruins num segundo relacionamento, daí a cagada nesse caso fui eu mesma. enfim, é complexo. e talvez eu precise de muito mais sessões de terapia que eu imaginava até agora. me sinto cássia eller: eu sou poeta e não aprendi a amar. será?


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